Domingo, 31 de Maio de 2009
A idade só pesa sobre os cavalos, por isso trabalha como um

Eu já aqui tinha falado do aumento da esperança de vida como uma coisa perigosa, no contexto da preguiça humana. Mas há perigos económicos também. Com o aumento da esperança de vida, os trabalhadores com 65 anos que se reformarem em 2009 são penalizados em 1,32% das suas pensões. Para evitarem esta penalização, têm de trabalhar mais uns quantos meses, número dependendo, obviamente, do número de anos a descontar para a segurança social. No fundo, andamos a vida toda a trabalhar para pagar o nosso conforto na velhice. Mas, como vivemos mais, temos de trabalhar mais antes de podermos usufruir da nossa apetecível velhice. Velhice essa que deixa de ser tão apetecível, a partir do momento em que não trabalhamos o suficiente para a tornar confortável.

Eu sou um leigo a economia, e eu próprio fiquei confuso com este meu encadeamento de ideias, tanto que tive de ir tomar uma aspirina. Mas falo por mim: se alguém me tira os chinelos, a poltrona com suporte para os pés e a boina xadrez, está feito comigo.

Quando a minha geração chegar à idade da reforma, vamos ter de trabalhar aí até aos oitenta anos, isto se a coluna nos permitir, e a minha já não está muito bem e ainda não fiz dezanove. A isto,acrescentando uns meses para evitar prejuízos ao receber o dinheiro que nós fomos juntando, trabalhando. (Só nesta frase já há algo de paradoxal, mas façamos vista grossa.) Teremos, na altura, duas opções.

Uma delas é radical e kamikaze: recusarmos o trabalho. Simplesmente, não mexermos uma palha. Pessoalmente, isto agrada-me. Era o que eu estava a pensar fazer, fosse como fosse. Assim, a preguiça deixaria de ser preguiça. Passaria a ser, e passo a citar um qualquer comentador do futuro, «uma decisão radical e corajosa de uma geração que não quer ver o seu suor a pagar as regalias dos reizinhos no poder, para depois não ser recompensada com uma sossegada e merecida reforma.» Disfarçar a minha preguiça com decisões contestatárias parece um sonho de infância.

A outra opção é morrermos a trabalhar, antes de chegarmos à idade da reforma. Para nós, seria uma chatice. Mas de certeza que o governo vai encontrar destino para o nosso dinheiro, porque no futuro também haverá "onde" investir. Os egípcios acreditavam que, sepultando o morto com as suas riquezas, ele podia usufruir destas no outro mundo, noutra dimensão. Eu, pelo sim, pelo não, vou pedir para ser enterrado com o dinheiro que eu descontei para a segurança social. Pode ser que desta forma possa ter chinelos, a poltrona com suporte para os pés e a boina xadrez do outro lado da vida.




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