Eu já aqui tinha falado do aumento da esperança de vida como uma coisa perigosa, no contexto da preguiça humana. Mas há perigos económicos também. Com o aumento da esperança de vida, os trabalhadores com 65 anos que se reformarem em 2009 são penalizados em 1,32% das suas pensões. Para evitarem esta penalização, têm de trabalhar mais uns quantos meses, número dependendo, obviamente, do número de anos a descontar para a segurança social. No fundo, andamos a vida toda a trabalhar para pagar o nosso conforto na velhice. Mas, como vivemos mais, temos de trabalhar mais antes de podermos usufruir da nossa apetecível velhice. Velhice essa que deixa de ser tão apetecível, a partir do momento em que não trabalhamos o suficiente para a tornar confortável.
Eu sou um leigo a economia, e eu próprio fiquei confuso com este meu encadeamento de ideias, tanto que tive de ir tomar uma aspirina. Mas falo por mim: se alguém me tira os chinelos, a poltrona com suporte para os pés e a boina xadrez, está feito comigo.
Quando a minha geração chegar à idade da reforma, vamos ter de trabalhar aí até aos oitenta anos, isto se a coluna nos permitir, e a minha já não está muito bem e ainda não fiz dezanove. A isto,acrescentando uns meses para evitar prejuízos ao receber o dinheiro que nós fomos juntando, trabalhando. (Só nesta frase já há algo de paradoxal, mas façamos vista grossa.) Teremos, na altura, duas opções.
Uma delas é radical e kamikaze: recusarmos o trabalho. Simplesmente, não mexermos uma palha. Pessoalmente, isto agrada-me. Era o que eu estava a pensar fazer, fosse como fosse. Assim, a preguiça deixaria de ser preguiça. Passaria a ser, e passo a citar um qualquer comentador do futuro, «uma decisão radical e corajosa de uma geração que não quer ver o seu suor a pagar as regalias dos reizinhos no poder, para depois não ser recompensada com uma sossegada e merecida reforma.» Disfarçar a minha preguiça com decisões contestatárias parece um sonho de infância.
A outra opção é morrermos a trabalhar, antes de chegarmos à idade da reforma. Para nós, seria uma chatice. Mas de certeza que o governo vai encontrar destino para o nosso dinheiro, porque no futuro também haverá "onde" investir. Os egípcios acreditavam que, sepultando o morto com as suas riquezas, ele podia usufruir destas no outro mundo, noutra dimensão. Eu, pelo sim, pelo não, vou pedir para ser enterrado com o dinheiro que eu descontei para a segurança social. Pode ser que desta forma possa ter chinelos, a poltrona com suporte para os pés e a boina xadrez do outro lado da vida.
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↘ Apertado
↘ A idade só pesa sobre os ...
↘ Cabeça para cima, polegar...
↘ Os preguiçosos não se tor...
↘ A saúde vem de autocarro ...
↘ Ópios do povo, qual deles...
↘ Um abraço neste Shopping ...
↘ Melhores Destinos:
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